
A Câmara de Vereadores de Corbélia sediou, na noite de sexta-feira (30), uma audiência pública para discutir o transporte intermunicipal entre Corbélia e Cascavel, atualmente operado pela empresa PGTUR. O encontro reuniu usuários, representantes da empresa, do DER (Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná), o representante da OAB Dr. João Paulo Zuchi Fagundes, e vereadores, com o objetivo de apresentar reclamações da população e buscar esclarecimentos sobre o atual modelo de operação.
Mediada pelo presidente da Câmara Emanuel Andrigo Huff a população apresentou diversas reclamações que geram insatisfação e revolta por parte dos usuários. Entre elas, a mais debatida foi o alto valor da tarifa, hoje fixada em R$ 14,68. Usuários relataram que o custo elevado tem dificultado o deslocamento diário, especialmente para trabalhadores de baixa renda. Muitos afirmaram que empresas de Cascavel têm evitado contratar moradores de Corbélia justamente pelo custo com transporte. Uma passageira chegou a declarar: “Metade do nosso salário vai para pagar a passagem.”
Representando a PGTUR, o senhor Evacir explicou que o valor da tarifa é regulamentado pela AGPAR (Agência Reguladora do Paraná), com base em cálculos técnicos que consideram quilometragem, salário dos motoristas, combustível e manutenção dos veículos. Segundo ele, a empresa operava com um desconto promocional que precisou ser encerrado por inviabilidade financeira, e o reajuste mais recente corresponde à correção anual autorizada pela agência.
Sobre as condições dos veículos, os usuários apresentaram vídeos e relatos que mostravam poltronas quebradas, bancos molhados, ônibus com goteiras, pneus carecas e avarias que causaram ao menos quatro quebras no último mês. Passageiros relataram ainda superlotação e situações de insegurança, como pessoas viajando em pé ou sentadas no colo, o que é proibido no modelo rodoviário. Houve também queixa sobre a ausência de acessibilidade para cadeirantes e a falta de ônibus com elevador.
A empresa reconheceu que problemas pontuais podem ocorrer, especialmente em dias de chuva, mas alegou que os veículos passam por inspeções obrigatórias do Inmetro e que há frota reserva para substituições. Evacir acrescentou que os motoristas são orientados a isolar poltronas com fita zebrada quando danificadas, mas que essa sinalização nem sempre é respeitada pelos passageiros.
Outro ponto levantado foi a falta de acessibilidade nos veículos, especialmente para pessoas com deficiência. O representante da OAB, Dr. João Paulo Zuchi, relatou que o tema já havia sido levado ao Ministério Público, mas o processo foi arquivado. Ele destacou que a situação persiste e fere o direito dos usuários ao transporte digno. Questionado sobre a possibilidade da inclusão de ao menos um veículo dentro das condições para o transporte o representante da empresa disse que atualmente a empresa não pode atender esta demanda, e que cumpre as exigências atuais da lei.
Diversos usuários também denunciaram também a prática de não devolução do troco. Os motoristas frequentemente ficam com o valor excedente pago pelos passageiros, de R$0,02, alegando ausência de troco. A PGTUR justificou que a prática está errada, e que já orientou os motoristas a arrendondar o valor para baixo, e se comprometeu a reforçar a orientação.
A representante do DER-PR, Maria Elizabeth (Beth Boss), foi categórica ao afirmar que esse tipo de prática é irregular. “O motorista não pode ficar com o troco. O passageiro precisa denunciar oficialmente, com todos os dados, para que o DER possa notificar a empresa e exigir providências”, frisou.
Entre as reclamações feitas pelos usuários também esteve a forma de pagamento, o motorista só aceita pagamento em dinheiro. A forma de pagamento foi justificada pela empresa pela falta de internet durante o percurso. “O pagamento via Pix ou cartão não é possível dentro dos ônibus devido à falta de sinal de internet na rodovia.”
A escolha do modelo rodoviário, e não metropolitano, também foi muito debatida, e precisou de esclarecimentos, tanto por parte do DER, quanto da própria câmara de vereadores
Os usuários solicitaram a possibilidade de retorno do modelo anterior, mais barato e com mais horários, especialmente nos períodos de pico. Beth esclareceu que Corbélia não faz mais parte da região metropolitana de Cascavel desde 2013, e que o modelo metropolitano deixou de ser viável quando a empresa anterior, Expresso Maringá, solicitou a retirada da concessão por inviabilidade financeira. Segundo ela, o rodoviário permite que a linha opere com uma ocupação mínima de 24% (de assentos), enquanto o metropolitano exige ao menos 57% (de assentos) para cobrir os custos.
De acordo com o Presidente da Câmara, embora ainda conste no site do governo como parte da região metropolitana de Cascavel, Corbélia perdeu essa classificação legal desde 2013. Com isso, a gestão do transporte passa a ser responsabilidade direta do Estado, e não da AMEP (Agência Metropolitana), como seria no caso de transporte metropolitano.
A população presente na audiência reiterou o desejo de que o sistema metropolitano seja reavaliado, ao menos nos horários de pico, com tarifa mais acessível e mais frequência nos horários. Muitos relataram que o custo elevado está inviabilizando o trabalho em Cascavel. “A gente vai para trabalhar e metade do nosso salário vai em passagem”, desabafou uma usuária.
A representante do DER reforçou que, para haver mudanças, é necessário um estudo de demanda, que pode ser realizado em conjunto com a Prefeitura, a Câmara e a comunidade. Somente com base em dados concretos seria possível reavaliar a adoção de horários com tarifa mais acessível. Beth também destacou que o canal adequado para reclamações é o telefone 0800-410-158 ou o e-mail institucional do DER, e que denúncias genéricas não possibilitam aplicação de penalidades.
A audiência foi encerrada pelo presidente da Câmara, vereador Emanuel Andrigo Huff, que destacou o compromisso do legislativo municipal em buscar soluções concretas para garantir um transporte mais acessível, seguro e digno para os moradores de Corbélia. “Ouvimos, registramos e agora vamos seguir trabalhando para que esse serviço atenda verdadeiramente quem mais precisa dele todos os dias”, concluiu.
COMPARTILHE ESTE CONTEÚDO