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O que vendem as redes sociais?

- 1 de março de 2021
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As redes sociais são uma maravilha digital. No atual estágio da era da informação, estão entre as ferramentas mais úteis e de maior relevância. Facilitam a comunicação no trabalho. Agilizam a troca de informações. Proporcionam relacionamentos entre pessoas que, sem elas, provavelmente jamais teriam se conhecido. Atualmente, as redes sociais conquistaram todas as classes econômicas e faixas etárias. Até entre os idosos, talvez o grupo que maior oposição levantou contra elas em seu início. Aqueles pais e avós, que há alguns poucos anos atrás fuzilavam os jovens com críticas sobre o tempo gasto no MSN e Orkut, são hoje os mais devotados usuários do WhatsApp e afins.

É natural que algo que atraia tanta adesão acabe sendo alvo de opiniões divididas. Entre apocalípticos e integrados, todos já ouvimos discursos pró e contra as redes sociais. Portanto, o presente texto não trará nenhum novo veredito nesse sentido. Não vou acusar, nem absolver. Se as redes são ferramentas, então não podem ser classificadas a priori. Assim como o mesmo martelo que prega uma tábua também é capaz de rachar um crânio, o valor da ferramenta depende em última instância do uso que dela se fizer. Todavia, como qualquer outra ferramenta, para manuseá-la de forma correta, segura e saudável é importante conhecer algumas informações sobre ela.

A primeira coisa que devemos ter consciência ao usar uma rede social é que ela é uma empresa. Como toda empresa, visa lucros para se manter e expandir. Para mencionar um exemplo, o valor de mercado do Facebook (que também é dono do Instagram, WhatsApp, entre outros aplicativos) é de cerca de $600 bilhões de dólares americanos. Uma cifra superior ao PIB da maioria dos países do planeta. A cada mês, os clientes do Facebook, Youtube, Tiktok, injetam bilhões e mais bilhões de dólares nessas plataformas. E agora você se pergunta: “mas esses aplicativos não são gratuitos?”. Para você sim, mas você não é um cliente deles. Os clientes são outras empresas de vários segmentos que pagam para anunciar produtos e serviços lá (aquelas propagandas chatas que aparecem no feed e no início dos vídeos). Temos, portanto, uma relação comercial que envolve as redes sociais, os anunciantes e o usuário, onde as redes são o prestador de serviço e as empresas que anunciam são o cliente contratante. E qual é o papel do usuário, que nada paga nem recebe para participar dessas transações multibilionárias? Bem, só pode ser um: ele é a mercadoria.

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As redes sociais fazem fortuna vendendo seus usuários. Evidentemente não é o corpo material das pessoas que é vendido, nem sua força de trabalho. Em compensação, quase todo o resto é comercializado. Suas informações pessoais, idade, gênero, crença religiosa, local de trabalho, relações sociais, endereço residencial, são utilizados como moldes para selecionar e criar propagandas ajustadas sob medida. Porém os dados que são preenchidos em seus cadastros são ainda os menos importantes. É o uso cotidiano que gerará as informações mais valiosas. Os nossos hábitos de navegação na internet são minuciosamente analisados e arquivados pelo algoritmo das redes sociais. Como resultado eles conseguem criar um perfil de cada indivíduo com extrema precisão. Após pouco tempo usando um aplicativo desses visualizamos, curtimos e pesquisamos material suficiente para que eles saibam qual é nosso estado emocional, preferência sexual, nosso estilo de vestuário, esporte que praticamos, filmes e séries que assistimos, as músicas que mais gostamos, as comidas que nos apetecem, as opiniões políticas que apoiamos, as pessoas que “stalkiamos”… Mesmo sem tocar na opção de curtir, eles saberão se nos interessamos por uma publicação, pois cada postagem que rola no feed é cronometrada enquanto está na tela. Se você parou alguns segundos a mais para olhar uma foto, pronto, a inteligência artificial detectou a atenção especial dedicada àquela postagem.

A inteligência artificial das redes analisa e atribui etiquetas descritivas nas postagens. Por exemplo, aquelas fotos e vídeos que você postou durante as férias no litoral foram classificadas com palavras como “praia”, “mar”, “viagem”, “festas”, “corpo feminino”, “foto sensual de corpo feminino”. E aquelas fotos que publicou na academia certamente foram marcadas como “academia”, “fitness”, “malhação”, “atividade física”, “roupa de academia”, “suplementos”. Agora, quando seus contatos visualizarem essas postagens fotos, ela vai entender que eles podem ter interesse nesses assuntos.

E aqui temos que dar o braço a torcer para a genialidade da “sacada” que os desenvolvedores tiveram. Não sei se você percebeu, mas na simples operação de identificar e classificar o conteúdo das suas postagens, a rede transforma o usuário em peça publicitária (além de mercadoria). Quando alguém posta que viajou, trocou de carro, comprou um celular novo ou está num restaurante bem conceituado, ele não está somente divulgando sua vida, mas também estimulando desejos de consumo nos visualizadores. 

O alcance das redes sociais vai muito além do que se faz dentro delas. Praticamente todos os demais aplicativos do seu smartphone estão conectados com elas, alimentado-as com um fluxo contínuo de informações. Sempre que você acessa o navegador, as redes sabem o que você pesquisou. Quando entra nos aplicativos de compras online, as redes registram cada produto que você olhou. E mesmo quando o celular passa o dia inteiro no bolso, o trabalho da IA não para. Se o GPS do aparelho está ligado, ela terá mapeado cada passo dado e cada estabelecimento visitado. E não esqueça que os smartphones também contam com câmeras e microfones que podem estar ativos em momentos que nem imaginamos. Faça um teste: deixe seu celular na mesa e converse com alguém por alguns minutos sobre um produto que você gostaria de comprar. Depois abra seu Facebook ou Instagram e preste atenção nas promoções que aparecerão para você. Quando se trata de internet e redes sociais há duas coisas que você pode riscar do seu vocabulário: coincidências e anonimato.

Quanto mais postagens e sites com a mesma temática são visualizadas por uma pessoa, maior é o interesse dela nesse assunto. É assim que a rede “pensa” e é dessa maneira que ela vai construindo o perfil do usuário. Agora tente lembrar quando você criou sua conta nas redes sociais. Provavelmente foi há alguns anos. É tempo mais do que suficiente para a inteligência artificial dela te conhecer melhor do que você mesmo se conhece. Não é à toa que os anunciantes colocam tanto dinheiro nelas. Elas não só identificam seus interesses, como trabalham de forma orquestrada e inteligente para gerar interesses em você. Se muitas pessoas próximas de você estiverem comprando um produto específico, em algum momento elas vão sugerir ele para você. Tem vontade de viajar e andou pesquisando sobre isso, não se espante se as postagens de viagens dos seus amigos comecem a aparecer com mais frequência para você, geralmente acompanhadas de uma despretensiosa promoção de passagens aéreas e hospedagem. E assim, aquela vontade que tinha surgido aleatoriamente vai se convertendo em necessidade inadiável para você.

“Então estão me espionando?” A resposta é, de certa forma, sim. “Devo excluir todas minhas redes sociais”. Não necessariamente. As redes nos usam como um produto exposto na prateleira da sua loja, é verdade, mas não deixam de nos oferecer uma série de benefícios em contrapartida. Como já disse, e você sabe por experiência própria, elas são ferramentas com um potencial imensurável. Esse texto é apenas introdutório sobre o tema. Aconselho que procure conhecer mais sobre as práticas das redes, pois elas, afinal, já te conhecem bem até demais.

Imagem destacada disponível em: https://hejabweb.com/7-tips-how-to-earn-money-using-social-media/

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