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“NÃO ESTAMOS CONTRATANDO”

- Cidades, Corbélia
16 de outubro de 2018

Trabalhadores com ensino superior têm dificuldades em conseguir emprego em cidades menores

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Faltam 10 minutos para as 7h da manhã, é uma segunda-feira comum, e o Engenheiro Agrônomo Rodrigo Dalla Vecchia, de 34 anos, está à espera da lotação que sai todos os dias de Corbélia com destino à Cascavel. Rodrigo faz parte de uma parcela significante da população que não encontrou trabalho na cidade onde vive, e que se obrigou a buscar uma oportunidade em outro município. Em Corbélia das 6h até às 8h30min são seis ônibus que saem lotados todos os dias. “Eu não encontraria trabalho no ramo de atuação, que é de laboratório de solos. Mesmo se encontrasse a remuneração é pouco provável que seria a mesma” conta Rodrigo.
Os postos de trabalho para pessoas com maior especialização e que possuem graduação são poucos nas cidades do interior. Apesar de ser um diferencial, o curso superior não é exigência nas poucas vagas que surgem nas agências de trabalhadores da região.

Adriana  Além do sonho de ter uma faculdade no currículo, ela também carregava a esperança de uma melhora na carreira profissional, e consequentemente na vida financeira.

2016 era o ano de Adriana Almeida do Nascimento. Na época com 34 anos, o curso superior em Pedagogia era um passo adiante. Além do sonho de ter uma faculdade no currículo, ela também carregava a esperança de uma melhora na carreira profissional, e consequentemente na vida financeira. Não foi nada disso que encontrou pela frente. O primeiro teste seletivo durou apenas três meses. Apesar da formação, o mercado de trabalho não está sendo fácil e as vagas não aparecem. Ela acredita que seja a área de atuação que dificulta, já que a maioria das ocupações está nos órgãos públicos, o que dependeria de concursos. E de concursos e testes a pedagoga entende. Só no último ano ela já foi aprovada em um concurso e em três testes, todos em cidades diferentes da região. No entanto, apesar do tempo e espera, em nenhum ainda foi convocada. “Eu fico chateada por ter tanta burocracia, e não ser convocada logo. Pois frequentei quatro anos a faculdade todas as noites. Indo e voltando.”
Os testes seletivos realizados pelos municípios exigem não só o ensino superior, mas a média de pontos para os primeiros colocados é adicionada pelos cursos de especialização realizados pelo concorrente. Adriana não conseguiu fazer nenhuma especialização depois que encerrou a faculdade. As dificuldades financeiras atrapalharam. Sem emprego fixo, o orçamento não é o suficiente para continuar investindo na carreira profissional.
Em 2017, o país perdeu 20.832 postos de trabalho, pelo terceiro ano seguido, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho no fim de janeiro. O saldo negativo veio mesmo depois do início da recuperação econômica do Brasil, e da vigência das flexibilizações trabalhistas realizadas pelo governo para impulsionar o número de vagas de trabalho.
A pedagoga acredita que se não tivesse investido na sua formação, hoje estaria empregada em outras áreas no comércio. “Poderia estar no comércio, como vendedora ou caixa. As pessoas não contratam por essa questão. Como você se formou e não exerce sua profissão?” O receio dos empregadores no comércio, descrito por Adriana, está em uma possível saída, caso surja uma nova oportunidade no ramo em que ela é formada. “Eles tem medo de contratar por ser formada. E depois eu conseguir algo na minha área e deixar a pessoa na mão.”
Na espera para ser convocada em ao menos um dos três concursos nos quais passou Adriana conta somente com a ajuda financeira dos pais, e com os poucos serviços de diarista que aparecem. “Estou para ser convocada aqui em Corbélia e na cidade do Braganey, para assumir aulas. Através do teste seletivo. Passei em um concurso em cascavel. Acredito que até o final do ano sou convocada.”
Com 21 anos, e iniciando a carreira profissional, a Designer de Moda Dyenifer Lardini se prepara para embarcar rumo a Maringá. Ela acredita que lá conseguirá alavancar a carreira que já devia ter começado quando saiu da faculdade em 2016. A maior dificuldade apontada pela designer é a falta de experiência. “Não deu certo, pois a empresa precisava de alguém com mais experiência e agilidade, pra suprir a demanda deles.”
O número de pessoas com ensino superior que conseguem trabalho em Corbélia na área de formação é pequeno. A esposa de Rodrigo, o engenheiro citado no início da reportagem, Cristina Dalla Vecchia, teve um pouco mais de sorte na área em que atua, e ao invés de sair de Corbélia, ela retornou à cidade.
O tempo que viveu e trabalhou em Cascavel não fica nas boas recordações da contadora. A rotina incluía pegar até três lotações para chegar ao trabalho. “O almoço nunca era em casa, estava sempre na rua, e eu me alimentava sem qualidade nenhuma.” Cristina voltou à Corbélia pouco antes do casamento, há 5 anos, e está feliz com a carreira e com o trabalho que realiza. “Não trocaria Corbélia por Cascavel. Pela calma, pela tranquilidade que se encontra aqui. Em Cascavel eu tinha que almoçar na rua, não comia bem e vivia sempre na correria” ressalta Cristina.
Mesmo com o alto número de desempregados, o Paraná está entre os estados maior geração de empregos de acordo com Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. Em 2017 foram gerados no Paraná 67.239 empregos com carteira assinada para jovens de até 24 anos. Foi o melhor resultado entre os Estados da Região Sul.
Esse resultado não chegou ser sentido nas cidades do interior. O aquecimento do mercado de trabalho para os jovens foi mais percebido nas grandes cidades paranaenses. Curitiba conquistou 24% do total estadual, criando 16,1 mil vagas. Na sequência, Maringá e Londrina representam respectivamente 6,3% e 4,5% dos postos. Na quarta e quinta colocações aparecem Cascavel e São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.
De acordo com dados no site do CAGED, no ano passado, Corbélia realizou 903 admissões. Destas, 773 foram recolocações no mercado de trabalho, e 129 foram 1º emprego. O número de desligamentos, no entanto, foi ainda maior e chegou a 1036. Os dados de variação absoluta do emprego (diferença entre admitidos menos desligados) do município ficaram negativos, em -133. Ou seja, em 2017 mais se demitiu do que se contratou na cidade.
Entre aqueles que buscam recolocação, ou ainda aqueles que já estão no mercado de trabalho, encontramos ainda os que nem saíram dos bancos das faculdades. Samara Trevisol é acadêmica de Publicidade e Propaganda. A rotina de ida e volta para a faculdade é só o começo da carreira. “Se eu busco crescer profissionalmente é inevitável ter que sair da minha comodidade, ter que ir para mais longe em busca de melhores ofertas de trabalho.” Mesmo morando em Corbélia, Samara não acredita que conseguirá um trabalho na área que está se preparando pela falta de oportunidades de crescimento do próprio município. “Como cidade do interior, Corbélia não tem demanda para todos os tipos de áreas profissionais, e isso é compreensível, mas, por outro lado, podemos perceber que existe certo receio quanto às mudanças, dar espaço para o novo, para novos empreendimentos.”

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