O atropelamento de animais silvestres em rodovias e ferrovias é uma preocupação constante para a proteção da biodiversidade brasileira. A empresa Rumo Logística, concessionária de ferrovias, está pesquisando e desenvolvendo uma nova medida de mitigação a partir da emissão de alertas sonoros antes da passagem dos trens, o que possibilitaria tempo hábil para fuga dos animais que estiverem sobre os trilhos.
Os testes iniciais foram realizados com o plantel de antas (Tapirus terrestris) do Refúgio Bela Vista (RBV) entre 17 e 21 de junho. A expectativa é que o sistema contribua para a proteção da fauna nas ferrovias.
A Rumo Logística tem sede em Curitiba (PR) e administra milhares de quilômetros de malha ferroviária no País. Os dados de monitoramento de atropelamentos de fauna realizados pela empresa apontam que o grupo dos mamíferos é o mais atingido, principalmente espécies de médio e grande porte como a anta.
A realização da pesquisa no RBV ocorre pelo fato de ali haver número suficiente de antas para a participação em pesquisas científicas que buscam identificar quais estímulos sonoros ou ruídos são mais eficazes em afastá-los das ferrovias.
De acordo com a médica-veterinária da equipe de meio ambiente da Rumo Logística, Luana Gobbo Mamede, o sistema será instalado em trechos chamados de hotspots, onde, segundo os estudos, há uma concentração de passagens de animais.
Diego Fernandes, engenheiro elétrico da UTrem, empresa terceirizada que participa da pesquisa e da instalação dos equipamentos, conta que as antas “fazem ruídos que vão de 1.5 até 4.5 quilohertz. A gente fez a coleta de várias vozes que elas emitiram ao longo de alguns dias, colocou no espectro e acabou analisando essas frequências, que elas mais se comunicavam. A partir disso, a gente começou a analisar diversas frequências de sons que poderiam incomodá-las e que fossem capazes de causar um certo constrangimento”. A ideia é que os animais sejam afugentados da ferrovia pelo menos um minuto e meio antes de a locomotiva chegar.
A pesquisa começou com a instalação de câmeras, microfones e alto-falantes e observação prévia dos animais no recinto das antas, no Refúgio Bela Vista. Já a aplicação do teste durou cinco dias e terminou na sexta-feira (21). Neste período, foram feitas anotações sobre o comportamento dos mamíferos durante 10 minutos, antes e depois do disparo de diferentes alarmes sonoros em distintas horas do dia. Entre os ruídos testados estão o de uma sirene, latidos e buzina de trem. Os dados ainda serão analisados para decidir qual frequência tem mais efeito nos animais.
Luana Mamebe explica que o sistema “pode ser replicado para outros mamíferos também. A nossa intenção é que ele funcione para outros animais”.
Segundo a zootecnista Fabiana de Orte Stamm, do Refúgio Bela Vista, “esse projeto é extremamente importante, porque a anta é um animal muito importante para a conservação e é considerada essencial para a manutenção das florestas. São animais que ingerem as sementes dos frutos e são dispersores, sendo considerados jardineiros das florestas. E, por serem animais grandes, exigem um ambiente bem amplo”.
Atualmente, sistemas como este estão sendo testados em diversas partes do mundo. Em Portugal, o projeto Life Lines instalou protótipos nas estradas que emitem sons audíveis (para corujas), ultrassons (para ratos) e sistemas bioacústicos para aves, na tentativa de afastá-las das rodovias.
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