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Empreendedores são os impulsionadores da economia em pequenas cidades

- 19 de agosto de 2019
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Reportagem Publicada na 6ª Edição da Conexão Revista Junho/2019 – Jornalista Lindiagane Silveira

Há pouco mais de dois meses, a Lucilene Lino Macedo, 34, inaugurou a sua primeira loja de roupas em uma região central da cidade de Cafelândia. Essa não é a primeira vez que isso acontece. Ela fechou a loja “de bairro” recentemente para ir para um espaço mais amplo e com melhor localização. O novo ponto tem mais de 60m², com estoque maior e principalmente é possível atender melhor a clientela. O crescimento é o resultado de anos de venda no já conhecido “porta-em-porta”.

No início, a ideia era apenas ter a renda como complemento, e uma parceria com a irmã foi a oportunidade para o começo. “Chegou um momento que a gente conversando surgiu a ideia de montar um negócio. Eu comecei na minha casa vendendo, e ela fazia as compras.”

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Um espaço de garagem na casa de Lucilene logo se tornou a primeira lojinha. Até ali seu trabalho ficava limitado a vender e receber. As mudanças começaram ser necessárias quando surgiram as primeiras dificuldades.

Um desentendimento com a irmã obrigou a Lucilene a seguir com as próprias pernas. “Eu não sabia fazer as compras, porque isso era a função dela. Só depois de muito pesquisar é que eu descobri que quem conhecia meus clientes era eu, porque eu estava na venda”.

Lú, como gosta de ser chamada, não está sozinha. Ela faz parte dos milhares de brasileiros que abrem seus negócios próprios somente com a experiência de empregos anteriores, são os chamados “negócios por necessidade”. A Consultora do Sebrae Kellen de Oliveira lida diariamente com o cenário econômico que tem mudado dia-a-dia. “Hoje nós temos um cenário econômico que faz com que as pessoas empreendam muito mais por necessidade do que por oportunidade. Porém, até o ano passado, as pesquisas indicavam que as pessoas estavam empreendendo mais por oportunidade.”

Com maior facilidade para regularização e com os benefícios como Salário Maternidade, Auxílio Doença e Reclusão, a abertura do Micro empreendedor Individual (MEI) por parte dos trabalhadores autônomos é o primeiro passo para o crescimento dos negócios. “O MEI é uma ótima porta de entrada para a empresa começar, entrar no mercado, começar prestar o serviço, organizar e estruturar de forma que ele consiga manter e aí ele passa a ser uma micro-empresa.”

Esse pontapé inicial também é o divisor de águas. Dentro da pequena “empresa” e sozinho ou com a ajuda de familiares, é o empreendedor que presta o serviço, vende o produto, faz as compras e ainda controla a gestão financeira. E saber gerir a pequena empresa muitas vezes é o grande desafio.

“Ele é o faz tudo e o nível de gestão em geral é mais baixo. Nós encontramos empresários que já começam com algum tipo de estruturação, algumas planilhas de controle, ou controle manual que ele faz no negócio. E tem aqueles que simplesmente pegam o pouco de dinheiro que tem e investem num negócio e aí quando começa a trabalhar e ele para e não sabe para onde vai.”

No Paraná, nos três primeiros meses deste ano, foram 12.761 empresas abertas ( dados da Junta Comercial do Paraná). Somente em Cafelândia são mais de 800 micro empreendedores individuais registrados.

Boa parte deles, cerca de 620, está cadastrado na Sala do Empreendedor e recebem orientações sobre como gerir e planejar seus empreendimentos, a Lucilene, que citamos no início da reportagem, é uma delas. “No ano passado comecei a participar das palestras e seminários para aumentar o conhecimento e ampliar o negócio. E agora dei mais um passinho que era abrir uma loja no centro.”

O Agente de Desenvolvimento da Sala de Cafelândia, Marcos Sampaio, conta que a maioria dos empreendedores já possui conhecimento amplo da área em que vão atuar, mas o planejamento para crescer ainda é algo que eles próprios não imaginam ser necessário. “Cerca de 80% chegam aqui para formalizar o seu negócio e não possuem conhecimento nenhum de gestão financeira” detalha Marcos.

A carência dos novos empreendedores é suprida graças à uma parceria entre a Sala do Empreendedor e o SEBRAE. Todos os meses são fornecidas consultorias e treinamentos que auxiliam no desenvolvimento dos negócios.

E impulsionar o MEI a se tornar uma grande empresa é o principal objetivo. “A gente quer que ele cresça, não fique como micro empreendedor o resto da vida. Por isso nós oferecemos as consultorias fiscais, financeiras de marketing e a de planejamento” explica Marcos.

Vantagens em ser MEI

COBERTURA DO INSS
Com o CNPJ MEI você estará coberto pela Previdência com auxílio-doença, aposentadoria por idade ou invalidez, auxílio-maternidade e etc.
NOTA FISCAL MEI
Com o CNPJ MEI você poderá emitir Nota Fiscal Eletrônica.
IMPOSTO FIXO, MENSAL E BARATO
Você pagará no máximo R$ 54 por mês de impostos de seu CNPJ MEI.
CONTA BANCÁRIA EMPRESARIAL
Ao abrir MEI poderá ter conta jurídica e solicitar financiamentos.
FATURAMENTO MÁXIMO COM CNPJ MEI
MEI poderá faturar em média R$ 6.750/mês (R$ 81 mil em 1 ano).
MEI NÃO PRECISA DE CONTADOR
Controles simplificados do CNPJ MEI feito pelo próprio empreendedor
FUNCIONÁRIO DO MEI
Ao abrir MEI poderá registrar um empregado com tributação reduzida.

E por falar em crescer Marcos conta que em média cada empreendedor que segue todas as orientações e faz o acompanhamento pela sala demora no máximo 2 anos para subir de categoria.

Ele explica ainda que praticamente todos que migram é por necessidade de mais contratação de mão de obra. “O empreendedor começa a aumentar os serviços aqui, ali e logo ele precisa de alguém para ajudar. Mas, futuramente ele precisa de mais alguém para auxiliar que é quando ele precisa fazer essa migração.”

Rafael Moraes tem apenas 25 anos e é um dos exemplos de crescimento e expansão nos negócios. Há menos de 5 anos ele viu o mercado precisar de mão de obra para prestação de serviços de refrigeração e climatização. Mesmo com um bom emprego decidiu empreender.

É o chamado empreender por oportunidade. “A gente não acredita que vai ganhar mais do que aquilo que ganha com carteira assinada. Foi uma surpresa para minha família e para meus amigos.”

Rafael abriu a empresa de refrigeração por oportunidade. Mesmo trabalhando de carteira assinada em com ótimo salário, aos 21 anos ele resolveu largar tudo e arriscar no mundo dos negócios. Em um primeiro momento pouca gente acreditou que daria certo, mas confiar em si foi importante para permanecer no mercado e crescer.
“Ninguém acredita que trabalhando com a sua empresa você vai ganhar mais do que ganha do emprego de carteira assinada. Eu segui minha intuição, trabalhando certinho. E deu certo, agora é só sucesso.”

Rafael Moraes, 25 anos
Empresa: Eletro Moraes

A empresa cresceu, e agora além de empregar a irmã, e mais dois jovens, Rafael está abrindo mais uma vaga. “Vão ser três pessoas em campo, e uma só para cuidar do financeiro.” A migração de MEI para ME só trouxe benefícios.

Além de poder ampliar a prestação de serviços, a “Eletro Moraes” ganhou espaço físico. “Agora a gente pode fazer compras de equipamentos e fazer a revenda. E assim conseguimos nos tornar também assistência autorizada. Abrimos a loja física tem 2 meses para mim está sendo sensacional.”

Diante de tantas mudanças e crescimento na vida de empreendedores como Luciliene e Rafael, nenhum deles consegue se imaginar trabalhando novamente sendo funcionários. “Hoje voltar a ser funcionário, eu não me vejo. Não é fácil ser empreendedor, mas temos que correr atrás” finaliza Rafael.

“O perfil empreendedor é ter vontade de crescer, de proporcionar um melhor para o seu cliente também e atender cada vez melhor e com qualidade, e aprender mais. “ Lú.

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Dizem que o melhor da vida acontece fora da zona de conforto, mas não é um consenso. A Lucilene precisou ficar sem a parceira dos negócios para não só aprender a comprar, mas também à empreender. A lição valiosa que aprendeu nos momentos difíceis foi sempre buscar aprender mais e mais, seja em qualquer área.
“Eu não imaginava estar do jeito que estou hoje. Mas, foi quando eu tive que tomar frente. Vi que tinha capacidade e existia a possibilidade depois que comecei a fazer as palestras e ceminários na Sala do Empreendedor”.

Lucilene Lino Macedo, 34 anos
Empresa: Loja Linda’lu

Na crise: empreendedores são responsáveis por sustentar a economia das pequenas cidades

Em um cenário econômico nada favorável para geração de emprego, as micro e pequenas empresas estão entre as que mais geraram emprego no Paraná. Foram 8.464 novos empregos apenas em abril e 26.304 postos criados no primeiro quadrimestre por micros e pequenos negócios. O resultado deste segmento corresponde a cerca de 79% dos 10.653 empregos gerados no Estado no mês.

Essa geração de empregos, e principalmente abertura e crescimento de pequenas empresas é o que tem sustentado e movimentado a economia nas cidades como Corbélia e Cafelândia. A Consultora do Sebrae Kellen de Oliveira, explica que os municípios precisam investir nos pequenos negócios para que a economia local possa ter ainda mais suporte em situações de crise em grandes empresas. “Quando temos um volume de MEIs e micro estabelecidas e enraizadas e tem condição de permanência no mercado, ela busca seu crescimento constante e para crescer ela precisa de pessoas. Então ela emprega mais. Com mais empregos a gente movimento a economia como um todo.”

De acordo com Kellen a economia local não pode estar dependendo apenas de grandes empresas, já que o impacto é muito grande em caso de falência. “Se essa empresa (grande) quebrar uma gama enorme de trabalhadores irá para a rua. A economia local vai sentir de forma trágica. Se tem várias micro e uma ou duas delas têm problemas para se manterem no mercado e fecham, vai ter um número menor de desempregados. E esse número será absorvido por outras empresas.”

A força dos empreendedores nas pequenas cidades é tão representativa que um novo molde de economia pós crise deve surgir. “A micro tem não só essa capacidade de geração de empregos, mas de manter a economia conforme ela vai se moldar” conclui.

Empreendedorismo em Corbélia

Com pouco mais de 17 mil habitantes, Corbélia também é uma das cidades que se destacam pela abertura de novas empresas. Em média são registradas entre 60 e 80 novos MEIs ao ano. O destaque está nos segmentos de diarista e pedreiro. Além disso, parte dos registros não está diretamente ligada à abertura de novos empreendimentos, mas apenas a formalização da prestação de serviços terceirizados.

O público é diversificado e em média 45% são mulheres, e 55% são homens. De acordo com o Agente de Desenvolvimento da Sala do Empreendedor de Corbélia, Cláudio Negrello, o município tem em média cerca de 900 MEIs registrados, mas boa parte deles ainda possuem dúvidas e carências de administração. “ Geralmente eles buscam dúvidas, de como funciona, como é a formalização, e que tem que ser pago. Também buscam sobre microcréditos, controle de estoque e lucratividade”.

De acordo com Cláudio são raros os casos de encerramento das empresas, e quando acontecem é porque o empreendedor desistiu do empreendimento e conseguiu um novo trabalho. “A maioria quando fecham e por que desistiram do negocio e foram registrados em outra empresa” conclui.

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