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Cidades Empreendedoras: Como os municípios podem atrair grandes empresas

- Cidades, Corbélia
14 de janeiro de 2020
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O primeiro Centro de Distribuição fora do Rio Grande do Sul, e também o terceiro da rede de materiais de construção Quero-Quero, vai ser instalado em Corbélia. Mas, para que a cidade das flores fosse a escolhida para receber um investimento de mais de R$ 25 milhões, ela precisou ter indicadores que farão a diferença não só quando ele estiver funcionamento, mas também no futuro que a rede quer seguir pelo país.

O Gerente de Logística da rede, Vinícius Kieling conta que as regiões oeste e sudoeste do Estado estão recebendo os olhares atentos dos investidores. A loja inaugurada em Corbélia há pouco mais de um ano, faz parte de uma série de novas lojas abertas ao longo dos últimos anos. Somente em 2019 foram 50 novas lojas, e em 2020 o planejamento é crescer ainda mais, serão 70.

Mas, para que isso seja possível, é necessário fazer ainda um maior investimento. Para que as lojas sejam abastecidas com produtos de qualidade, e com preços atrativos, a logística de distribuição precisou ser repensada. Instalar o Centro de Distribuição em um ponto estratégico que possibilite ainda mais o crescimento da rede se tornou um desafio.

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Corbélia faz parte de um importante corredor para a distribuição dos produtos da rede, que quer expandir para o Mato Grosso do Sul e São Paulo. As obras de duplicação, a localização da cidade, e o apoio recebido do poder público foram cruciais.

“Porque para abrir uma unidade desse porte precisa ter uma infra forte. A gente acaba utilizando uma circulação forte de veículos, e se você não tem uma infra adequada inviabiliza. A infra ela realmente contou bastante a favor a nossa decisão.”

Características de infraestrutura como essas, que foram decisórias para a instalação do CD da rede no município, estão entre os sete fatores determinantes mapeados pela Endeavor Brasil em um estudo de 2017 no Índice das Cidades Empreendedoras, em que realizou estudos em 32 cidades brasileiras. Nele, o Ambiente regulatório, Infraestrutura, Mercado, Acesso a Capital, Inovação, Capital Humano e Cultura Empreendedora são indicadores que pesam na decisão de qualquer empresa no momento de expandir e investir.


Partindo desta premissa é possível analisar como pequenas cidades como Corbélia, ou qualquer outro município da região pode atrair grandes investidores, e futuramente se tornarem grandes polos industriais, com geração de emprego e renda.

Os municípios podem usar de estratégias mercadológicas e da simplificação de processos burocráticos para chamar a atenção de investidores externos, e consequentemente se tornarem mais atrativas e com vantagens competitivas maiores, como explica o Gerente da Regional Oeste do Sebrae/PR, Augusto Stein. “Alguns municípios tem um arcabouço legal, geralmente por meio de uma lei, ou um conjunto de leis que favorecem determinado tipo de empreendimento ou negócio no seu município.”

Muitos municípios, de acordo com Augusto, tentaram criar distritos industriais, aliados à reduções fiscais, ou em alguns casos, até isenção. Esse movimento tinha unicamente um objetivo, atrair empresas. Com o passar dos anos e alterações na lei, alguns desses incentivos se tornaram ilegais, e novamente foi preciso adaptação.

“Hoje o que estamos vendo mais, são as chamadas Leis de Inovação. Em que o município tem leis próprias que dão um incentivo para um determinado grupo de empresas. Geralmente empresas da área de tecnologia. Isso por que os municípios entendem que trazer tecnologia para o seu território, além da geração de empregos, gera mais riquezas.”

A localização de qualquer empreendimento também está ligado ao o que o Gerente da Regional Oeste do Sebrae/PR, Augusto Stein chama também de Mercado, e é um dos pontos determinantes que podem favorecer ou prejudicar. “Se estamos falando de empresas mais robustas, que precisam de um mercado mais abundante, os nossos municípios geralmente não tem boas condições, porque são municípios pequenos, ou seja, pouca população e pouco mercado. Agora, mesmo um município pequeno, que tenha uma localização geográfica próximo de um mercado maior, favorece. Então mesmo os municípios menores, quando olham pra Cascavel ou Toledo, o mercado consumidor já é um pouco maior.”

Uma realidade confirmada pelo Consultor Financeiro e Professor Gilnei Saurin que atua diretamente em consultoria de negócios realizando o planejamento para crescimento e expansão de empresas. Segundo ele o mercado é analisado como um todo, desde o nível de consumo, até o financeiro da população na região.

“Quem são os consumidores pra àquele produto, qual é o tamanho desse mercado consumidor, as condições socioculturais desse consumidor e basicamente o poder aquisitivo.”

Acesso ao Crédito

Augusto explica também que acesso é crédito é totalmente impactante, os recursos financeiros disponibilizados é o oxigênio para que essa expansão aconteça, e a região Oeste saiu na frente com uma das maiores empresas garantidoras de crédito do País.

“Hoje nos temos um exemplo na região, que é a GarateOeste, que é uma garantidora de crédito. Ela trabalha com cartas de garantia pra que o banco que está fornecendo o investimento, tenha uma garantia e possa baixar um pouco sua taxa de juros. É um bom case, e é a principal garantidora do Brasil.”

Inovação

E para crescer também é preciso inovação, que para o Augusto está totalmente ligada ao empreendedorismo, mas mais ainda na capacidade da empresa agregar valor aos seus produtos. “Pra uma empresa pode inovar mais ela precisa de um ambiente mais propício. Por exemplo: se o município tem uma lei de inovação que beneficia a tributação é um ambiente mais propício.”

Capital Humano

A inovação também leva à um outro gargalo, que está entre os indicadores da Endeavor, o Capital Humano. Para o Gerente do SEBRAE, é preciso uma mão-de-obra altamente capacitada, que geralmente não estão em cidades menores. “As empresas pra inovar, geralmente precisam de um bom capital humano e normalmente o capital humano com essas características está concentrado nos grandes centros, o que também pode ser um dificultador.”

O capital humano é entrave em praticamente todos os segmentos, principalmente se houver a necessidade que ele seja mais qualificado, para Augusto é também um limitador de crescimento. “Capital humano é o maior limitador do desenvolvimento de uma empresa ou o contrário, é o que pode gerar mais condições de uma empresa ser competitiva.”

Cultura Empreendedora

No mercado, empresas impulsionam a abertura de novas empresas, a cultura empreendedora é o último indicador apontado pela pesquisa da Endeavor. E é por isso que o Sebrae aposta tanto em educação empreendedora “Desde as crianças, pra que já na escola, aprendam conceitos do comportamento empreendedor. E isso não é aprender a fazer negócios, é aprender conceitos de como ter um comportamento empreendedor, e isso permeia da escola até a vida adulta. Quanto mais empresas a gente tiver, mais empregos e mais riqueza teremos. Isso que dá o dinamismo da economia nos municípios.”

Infraestrutura

Gilnei, conta que em um planejamento de crescimento e expansão a realidade das cidades é estudada em cada detalhe, e a infraestrutura não inclui apenas estradas, mas também energia e tecnologia. “As empresas buscam toda a infraestrutura que envolve os transportes, por exemplo, novas tecnologias, e a forma de se chegar até o consumidor, bem como, do fornecedor chegar até a empresa. Num segundo momento, também tem a questão de energia que a região fornece.”

Empreender Onde ViVe

E energia foi o gargalo no investimento de mais de R$5 milhões realizado pelo empresário Valdir Feltrin em Cafelândia. O Centro Comercial das Palmeiras inaugurado em Maio deste ano está em um dos principais pontos comerciais da cidade, mesmo assim, ele precisou trabalhar intensamente quando descobriu que a energia disponibilizada pela Copel era insuficiente para a carga de empresas que iam se instalar no local.

“Nenhum dos padrões tinham energia suficiente para conseguir atender. Eu tive que comprar, e pagar um transformador para por na rua. Porque não tinha essa energia. E com a Copel teve uma burocracia muito grande. E isso acaba gerando aquele stress. Não que desanima, mas atrapalha.”

O fator determinante que o levou Valdir investir em Cafelândia, uma das cidades que mais cresce exponencialmente em número de habitantes no oeste, envolveu seu emocional. A paixão pelo município onde nasceu e cresceu foi determinante. “Sempre tive propostas para investir em Cascavel, Toledo, que são cidades também que estão se desenvolvendo. Mas, Cafelândia é uma cidade nova, e que se desenvolveu muito. Então tem futuro eu investir aqui e ter empresas aqui”.

Para a construção e instalação do centro comercial, Valdir não solicitou nenhuma isenção fiscal, ou se utilizou de benefícios públicos que pudessem auxiliar no seu empreendimento. O empresário prefere cobrar do setor público melhorias na infraestrutura da cidade, que para ele é a motriz para novos investidores. “Nem precisa ter lei de incentivo, desde que não atrapalhe. As vezes você está construindo um negócio, e tem a burocracia atrapalhando. Mas, quem tem vontade de fazer alguma coisa, vai fazer. Você não pode querer montar um negócio e ficar esperando que o município vá bancar para você.”

O centro comercial não será seu último empreendimento, principalmente, quando dialoga com outros grandes investidores da cidade. O impulsionador para Valdir é mesmo a estrutura econômica das empresas que já atuam na cidade “Uma cidade para ir super bem, ela precisa ter várias empresas fortes, e não depender de uma só. Mas, se nós temos uma grande empresa ela vai impulsionando outras e alavancando o crescimento do município.”

O cenário das pequenas cidades no oeste do Paraná, são praticamente iguais segundo o Gerente Regional do SEBRAE/PR. Para Augusto, “municípios com Corbélia, Cafelândia, Anahy, Braganey ou Nova Aurora possuem um processo de certificação similar, tributação similar, então não vai mudar muito pra apontar exatamente seria o melhor município para empreender”.

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