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PROGRAMADO AO ABANDONO

- 16 de outubro de 2018

O número de animais abandonados cresce aproximadamente 50% durante o período de festas e férias de fim de ano, de acordo com uma estimativa da Sociedade Protetora dos Animais do Paraná

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Chovia muito, e a casa de Carla Santos, 29, fica longe da estrada. Ela mora no interior do município de Corbélia, e o marido havia saído há menos de cinco minutos, quando retornou pedindo ajuda. Eram três filhotes de cachorro abandonados em meio ao temporal. Com uma caixa em mãos ela foi com o marido até o local. Carla chegou filmando a situação dos animais. “Sai do carro. E os recolhi. Me deu muita tristeza ver aquilo. Eu só queria tirar eles dali, daquela situação. Trouxemos para casa. Logo eu os alimentei.”
Eram três cadelas, repletas de pulgas e carrapatos. A mais fraquinha, que depois foi apelidada de pretinha, tinha sarna por todo o focinho, e uma inflamação grande nos ouvidos. Os carrapatos foram tirados um a um com ajuda de um alicate. O primeiro banho foi rápido.
Em contato com a ONG Proteção Animal Corbélia, ela contou o que presenciou e pediu auxílio. Os animais foram encaminhados para uma clínica veterinária. Ali receberam banho, vacinas e remédios. Pretinha precisou de cinco banhos de remédios para curar a sarna. Da ninhada salva por Carla, duas cadelas foram adotas. Pretinha ficou para trás e ainda aguarda adoção.
A história vivida por Carla não é a primeira. Ela relembra que, com este ,já passam de 11 animais recolhidos por ela, todos abandonados próximos à sua casa.
A situação de abandono de animais em Corbélia é lamentavelmente um problema diário vivido por moradores. A ONG Proteção Animal conta apenas com três membros atuantes, não possui carro próprio e a pouca verba que recebem da prefeitura é suficiente apenas para tratar dos animais que são encaminhados para castração. O tempo doado em prol da causa animal vem depois do trabalho. Todos os membros possuem empregos fixos e se desdobram entre si para atender os tantos chamados que recebem diariamente de maus tratos e abandono.
Como se não bastassem os crimes de abandono, a ONG passou a receber denúncias de cachorros mortos por envenenamento. Clarice Doreto, professora, e membro da ONG, conta que ela mesma encontrou um animal agonizando perto da sua residência no Loteamento Padovani. “No momento em que eu e a Silvia o socorremos, já vimos que ele não tinha mais salvação.” O cão jovem, de aproximadamente dois anos, não resistiu e morreu depois de ser levado ao veterinário. “Ele estava tendo espasmos, tivemos que segurar na mesa na veterinária. O caso realmente era grave”, conta Clarice. Este já o segundo registro de envenenamento no mesmo bairro. O primeiro caso foi de um cachorro que possuía proprietário e ficava dentro do quintal da residência, este foi socorrido a tempo de ser salvo, mas permaneceu sete dias internado.
O delegado da Polícia Civil de Corbélia, Dr. Rogerson Luis Rivas Salgado, explica que os casos maus tratos à animais configuram crime ambiental. “O crime de envenenamento e de maus tratos é previsto no artigo 32 de crimes ambientais, na lei 9605/98, e prevê a detenção de 3 meses a 1 ano” , explica o delegado.
O delegado conta que a grande dificuldade na solução destes tipos de crime normalmente são as provas. “As vezes quem sabe e quem viu não quer falar, ou tem medo de falar. E as vezes não tem câmeras de segurança. Porque a Polícia Civil trabalha em cima de informações. Se não tem essas informações, seja através de denúncias, seja através do testemunho de quem viu, fica difícil a solução e o meio de prova pra vir a condenar a pessoa autora deste crime”, ressalta.
A ONG Proteção Animal de Corbélia, trabalha desde 2012 na causa animal, e busca a conscientização quanto a castração e os maus tratos. Os recursos provêm de doações e do poder público municipal. Por meio de um Extrato de Inexigibilidade de Licitação a ONG recebeu no ano passado seis parcelas de R$2.750,00. O último valor foi depositado no mês de novembro. O dinheiro é destinado a castrações, ração e remédios. No mês a ONG consegue realizar apenas 8 castrações, e comprar 4 sacos de 25 kg de alimentos.
Esse valor, no entanto vai aumentar, e o trabalho vai poder ser ampliado. Durante o período de coleta de informações para esta reportagem, no dia 19 de fevereiro um novo edital do Extrato de Inexigibilidade de Licitação – 27/2017 foi publicado pela prefeitura. Assinado pelo prefeito, o documento garante o pagamento de dez parcelas de R$4.584,00. A Inexigibilidade teve parecer jurídico favorável que foi publicado em diário oficial eletrônico no dia 9 de fevereiro deste ano. O valor já deve começar ser pago neste mês de março.
Com esse novo valor a ONG conseguirá aumentar o número de atendimentos, no entanto ainda não será suficiente para zerar a fila de 200 animais a espera de uma castração. “Essa lista é proveniente de um cadastro de pessoas de baixa renda, animais de rua que chamados de perini domiciliado (que vivem em uma região específica da cidade e não possuem donos), e ainda os animais socorridos pela ONG” , explica Clarice.
No mês de Janeiro o vereador Nene anunciou a conquista de um Castramóvel para o município de Corbélia. A clínica veterinária móvel custou 120 mil reais, e veio através de recursos do Ministério da Saúde. O objetivo central do veículo é minimizar a superpopulação de animais no município. Para funcionar, no entanto, o castramóvel dependerá de um veterinário para realização do procedimento, e um auxiliar. Responsabilidade que caberá posteriormente à prefeitura. A clínica móvel, de acordo com o vereador Nene, vai ser entregue neste mês de março, “O Castramóvel é um veículo adaptado de cães e gatos e vai agilizar esse processo atendendo aos animais em situação de abandono”, explica.
O Castramóvel, no entanto, não era o sonho da ONG, como conta Clarice. De acordo com ela o veículo é bem vindo, mas para funcionar dependerá de um valor ainda maior proveniente da prefeitura. “A prefeitura terá que abrir mão de mais valores e de recursos humanos.” Clarice conta que a ONG necessita urgentemente de um veículo exclusivo para atendimento e recolha de animais em situação de risco “o veículo da ONG, é o meu carro. É o mais velho, ele possui o porta-malas que pode retirar a tampa e pode carregar o cachorro lá dentro. E nós ainda não temos nenhuma verba para gasolina, nós abastecemos do nosso bolso”
A ONG pede a colaboração da população. As doações podem ser em rações, ou dinheiro. Quanto àqueles que presenciarem crimes de maus tratos e abandono que denunciem junto a polícia através do 190, e se possível filmar ou fotografar o animal.

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