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Maria, passa na frente e vai abrindo casas e corações!

- 17 de outubro de 2022
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Fotografia: Eduardo Knapp/Folhapress

Atenção! Este é um texto de Opinião, e não representa, necessariamente, a opinião da Conexão Revista.

Como católico, não há como não se sentir mal com as cenas ocorridas no município de Aparecida, em São Paulo. A visita do senhor presidente da República à Catedral Basílica Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, justamente no dia de maior movimento no maior templo católico do País e em plena campanha eleitoral, embora fora do comum, não deveria ser fora do normal.

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Embora possamos questionar o uso de celebrações católicas como palanque político, como também ocorreu no Círio de Nazaré, em Belém do Pará, ou até o fato do mandatário máximo de nosso País se identificar ora como católico, ora como protestante, dependendo do calor do momento e da utilidade para seu discurso, não foram estes fatos e fatores que causaram vergonha à população brasileira.

O nosso presidente, postulante à reeleição, se portou com respeito quando esteve em uma das sete missas que celebram Nossa Padroeira Nacional na maior catedral do mundo. Infelizmente o mesmo não pode ser dito de seus apoiadores, que geraram, no mínimo, três momentos de total desrespeito pela fé católica e pela religião cristã como um todo.

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), enfurecidos por motivo ainda inexplicado, atacaram o cinegrafista da TV Aparecida com ofensas e palavrões, que precisou ser retirado sob escolta dos seguranças. Não há argumento que justifique tal ataque. Toda e qualquer reclamação que se tenha sobre algum veículo de comunicação deve ser direcionado aos responsáveis, não a um trabalhador que está ali, trabalhando em pleno feriado nacional, somente para ganhar seu sustento. Atacar um cinegrafista não é atacar uma emissora de TV: é atacar uma pessoa trabalhadora, pessoa esta que dificilmente compartilha ou intervém na linha editorial do veículo ou detém qualquer poder sobre a emissora. Bolsonaristas também foram flagrados xingando jornalistas do UOL e do SBT.

Este incidente foi ainda agravado pelo fato de que alguns dos presentes bebiam cerveja no local, e arremessaram latas contra o cinegrafista.

 

O segundo caso vergonhoso que se decorreu na Capital Mariana do Brasil foram os fiéis perseguindo um rapaz simplesmente por ele estar vestindo uma camiseta vermelha. A camisa não continha dizeres ou imagens de apoio a nenhum partido político, embora os perseguidores imediatamente o associarem ao Partido dos Trabalhadores (PT). Esquecem que vermelho também é a cor que simboliza o fogo de Pentecostes e o Sangue do Cristo que louvam. Acredito que, quando forem à Santa Missa em um Domingo de Ramos ou na Sexta-Feira Santa, ou ficarão muito surpresos ou expulsarão o padre para da Igreja. E, mesmo que a camiseta fosse relacionada a algum partido, Deus não faz acepção de pessoa, tampouco Sua Mãe o faz, e nem nós o devemos fazer. Uma pessoa com a camiseta do Partido dos Trabalhadores tem tanto direito de estar em Aparecida quanto uma pessoa com a camiseta da Seleção Brasileira ou da Congregação Mariana.

 

A ideia de que possam expulsar o padre da Igreja dita acima soa como piada, mas, infelizmente, considerando o terceiro fato vergonhoso que ocorreu em Aparecida, está mais próximo da realidade do que gostaríamos: o padre Camilo Júnior e o arcebispo Dom Orlando Brandes foram vaiados, em momentos distintos, durante as celebrações! Foram cenas estarrecedoras para qualquer católico.

Na Basílica Histórica ocorre a Consagração a Nossa Senhora Aparecida, todos os dias, às 15 horas. Durante este momento de fé, o padre Camilo Júnior afirmou que o Dia da Nossa Padroeira é “dia para se pedir benção e não votos”, o que parece senso comum. Inclusive o presidente da República parece ter entendido, já que não pediu votos na celebração em que compareceu. Mas os seguidores do Presidente parecem não ter entendido da mesma maneira que Jair entendeu, e vaiaram o padre, inclusive causando confusão na sacristia após a Consagração.

Já Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida, foi vaiado simplesmente por afirmar que, assim como Maria venceu o dragão, o povo católico também precisa vencer seus “dragões”, estando atualmente, entre eles, o ódio, a mentira, o desemprego e a fome. Em qualquer outra época, qualquer católico do planeta Terra concordaria com isso. Lembraria do que Jesus disse no Evangelho de Mateus: “Tive fome, e me destes de comer” (Mateus, 25:35). Entenderia que ser católico é defender a Verdade, o Amor e a Vida.

Mas, aparentemente, não é o caso neste tempo em que vivemos. Os fieis bolsonaristas interpretaram a homilia do arcebispo de Aparecida como um apoio velado ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ora, se falar em ódio, mentira e fome é um ataque a seu candidato, que candidato seria esse? Se Bolsonaro é um candidato católico e seus seguidores também o são, como uma fala dessas poderia ser interpretada como contrária ao que eles pregam? Por acaso algum católico defende o ódio, a mentira e a fome? Aparentemente temos alguns irmãos que decidiram começar.

Os seguidores deveriam aprender até mesmo com o próprio candidato que apoiam. Bolsonaro estava com agenda programada para participar do Rosário pelo Brasil, terço organizado pelo Centro Dom Bosco, sem relação com o Santuário Nacional, que ocorria no mesmo horário da Consagração.

Como viu os ânimos exaltados e, em respeito à Nossa Senhora e a seus irmãos católicos, Jair Bolsonaro preferiu não comparecer ao terço, passando apenas brevemente pela Tenda dos Peregrinos. Decisão acertada: ao invés de inflamar seus correligionários com sua presença, preferiu ausentar-se, sabendo que estar presente poderia, infelizmente, aflorar o temperamento dos seus seguidores mais radicais. Ponto positivo para Bolsonaro, ponto positivo para bolsonaristas.

E os três fatos vergonhosos são ainda mais agravados posteriormente com a tática que os estadunidenses intitularam ‘whataboutism’ (do inglês what about, que pode ser traduzido como ‘mas e o…?’). Resumidamente a falácia se estrutura em, ao ser apontado o problema X, a pessoa aponta o Y, para desviar o foco do problema X. Ao ser questionado sobre o azul, reclama-se do amarelo e, assim, não se responde sobre o azul.

É o que vem acontecendo sistematicamente desde o dia 12 nas redes sociais de muitos apoiadores do candidato do PL: ao serem confrontados com os tristes acontecimentos ocorridos em Brasília, compartilham imagens de santos destruídos em outras ocasiões ou tentam focar na visita do candidato Lula ao Complexo do Alemão.

Ora, o fato de que alguém que seja de esquerda ter destruído imagens religiosas faz com que os casos ocorridos em Aparecida sejam menos graves? Pelo contrário, coloca os perpetradores de ambos os casos no mesmo patamar.

Quaisquer dos pontos levantados sobre a visita de Lula ao Complexo do Alemão (a maioria baseada em fake news, vale ressaltar)  minimizam o desprezo pela fé católica demonstrada por supostos católicos na Capital Mariana do Brasil? Óbvio que não.

Meus caros irmãos católicos bolsonaristas: denunciar e se posicionar contra o que ocorreu na Basílica não faz de vocês menos bolsonaristas; mas não o fazer torna vocês menos católicos.

Como diz a oração: “Maria, passa na frente e vai abrindo estradas, portas e portões, abrindo casas e corações”. Maria passa na frente. Sempre.

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