O Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP), retomou no dia 07 de dezembro de 2022, as cirurgias eletivas que estavam suspensas diante da pandemia da Covid-19 e, nesta quinta-feira (15), o segundo paciente do Grupo de Obesidade e Cirurgia Bariátrica do HUOP foi beneficiado com o procedimento, finalizando assim o longo processo de espera.
Segundo Dr. Allan Cesar Faria Araujo, cirurgião gastroenterológico e do aparelho digestivo, o procedimento realizado é o mais adequado para o paciente com obesidade sendo que a cirurgia bariátrica é uma das opções oferecidas, e considerada a que melhor proporciona resultado. “Somente no final de 2022 é que as cirurgias eletivas foram liberadas aqui no HUOP e nós estamos retomando esse procedimento aos poucos. A partir de 2023, esperamos que essas cirurgias aconteçam de forma regular e possamos atingir um número maior de pacientes atendidos”, explica Araujo.
Como qualquer intervenção cirúrgica, a bariátrica é complexa, mas, muito segura, sendo possível obter resultados logo após o procedimento realizado. Até que o paciente chegue nessa fase, é necessário que ele atenda a alguns critérios estabelecidos pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), como explica o médico. “As indicações de cirurgia são feitas naqueles pacientes que possuem o IMC (índice de massa corporal) acima de 35 a 40% (associado com comorbidades e problemas relacionados a obesidade) e acima de 40% (independente de comorbidades) e acompanhamento de pelo menos dois anos com a equipe do HUOP, sem resposta ao tratamento e sem contraindicações para a cirurgia. Pacientes acima do IMC de 50%, são prioridade para a realização da cirurgia”, esclarece Allan.
Vida Nova
Foram seis anos de acompanhamento com o Grupo de Obesidade e Cirurgia Bariátrica do HUOP. Romilde Aparecida Fogaça Costa, de 58 anos, foi a primeira paciente a passar pela intervenção cirúrgica pós-período de pandemia da Covid-19 e durante a consulta de retorno, disse que se sente muito bem. “Antes de passar pelo processo tive acompanhamento nutricional, psicológico e médico. Neste tempo de caminhada, eliminei 15 quilos de gordura. Só tenho a agradecer a toda a equipe do HUOP que é muito bem-preparada, agora me sinto muito feliz”, ressalta Romilde.
O cuidado nutricional
De acordo com a nutricionista do HUOP, Claudia Felicetti, o acompanhamento nutricional do paciente é fundamental antes mesmo do procedimento cirúrgico, se estende no pós-operatório imediato e tardio e mantido ao longo dos meses e anos por meio de educação nutricional continuada. Após o processo de intervenção cirúrgica, são cinco fases evolutivas de dieta, algo que faz toda a diferença no resultado esperado. “Todo esse cuidado com a pessoa que realizou o procedimento bariátrico vai muito além do zelo psicoemocional, observando a particularidade de cada técnica cirúrgica, somada a individualidade de cada paciente devemos orientar que a alimentação vai muito além da quantidade de calorias ingeridas, mas ainda, envolve prazer, afeto e, também, nutrientes indispensáveis para evitar carências nutricionais prevenindo complicações agudas e crônicas como refluxo, saciedade precoce, intolerância alimentar, desnutrição proteica e até mesmo a síndrome de dumping (desconforto gastrintestinal importante causado pela passagem rápida/má digestão do alimento)”, explicou Claudia.
Assim, ainda comenta a nutricionista, nos primeiros dias pós-operatório, o paciente inicia pela primeira fase da dieta, totalmente líquida, coada e fracionada em porções de 50 a 100 ml a cada trinta minutos a uma hora. Esta dieta é isenta de açúcar e fibras alimentares. “Nessa primeira etapa o paciente precisa ficar realmente hidratado e o consumo dos líquidos deve levar entre 10 e 12 horas por dia por até três dias. Por ser de baixa caloria, acrescentamos suplemento proteico para prevenir a perda de massa muscular. Após esse período, a dieta passa para a segunda fase, que chamamos de líquida completa por cerca de quatro semanas. Nesta etapa, acrescentamos a suplementação de polivitamínicos indispensáveis na prevenção de carências nutricionais”.
Na terceira fase, a dieta passa a ser pastosa, uma consistência homogênea e macia como o purê de batata, exemplifica. Nesta etapa a mastigação e o tempo de refeição devem ser muito bem orientados.
Na quarta fase, o paciente mais bem adaptado a nova rotina, passa para uma dieta de consistência branda e sólida, com atenção especial às escolhas alimentares saudáveis. E por fim, de acordo com a tolerância individual, evolui-se para a quinta e última fase, a dieta geral ou livre. O cuidado com a escolha dos alimentos nutritivos deve continuar, pois, as quantidades ingeridas diariamente continuam pequenas. Nesta fase o paciente pode ser capaz de selecionar os alimentos que lhe tragam mais conforto, satisfação e qualidade nutricional.
A saúde mental do paciente
Segundo Mônica Celis Stelmach Costa, psicóloga do Grupo de Obesidade e Cirurgia Bariátrica do HUOP, ainda existe o pensamento de que muitos pacientes têm a necessidade desse profissional para a liberação da cirurgia. No entanto, a atuação da terapia com o psicólogo no caso de pacientes bariátricos é imprescindível, seja para preparar o paciente que vai realizar o processo cirúrgico ou para a nova qualidade de vida que precisa ser iniciada juntamente com o acompanhamento multiprofissional. “Para alcançar bons resultados depois da cirurgia bariátrica, é essencial a colaboração do paciente e o seu empenho em seguir o programa de reeducação alimentar e, nesse trajeto, podem surgir dois vilões: a ansiedade e o estresse com os quais o paciente (e familiares) terão de lidar. Nessa hora, o apoio psicológico se faz novamente fundamental e a psicologia vai ajudar a pessoa a lidar com a privação
Ela lembra ainda que para muitas pessoas, o emagrecimento é acompanhado de uma inevitável mudança de postura perante a vida. Isso porque a obesidade muitas vezes é usada como explicação para a letargia do indivíduo frente a desafios. A psicóloga ajuda a lidar com essa nova questão: o ex-obeso começa a passar pelo processo de se perceber mais produtivo.
“Por fim, quem decide passar por um procedimento cirúrgico para redução do estômago tem de ter em mente que a mudança não será somente física. A mudança interna pode ser tão perceptível a quem olha de fora quanto os muitos quilos a menos que a pessoa irá apresentar. A psicoterapia ajuda a reorganizar a nova vida, a lidar com os novos hábitos alimentares e com as muitas informações que acompanham o tratamento posterior a cirurgia bariátrica” finaliza Stelmach.
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