Celino Geraldo do Carmo, 63 anos, passou mais de um mês internado na unidade Covid-19 do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (Huop). E cada dia, era um dia de angústia, principalmente para os familiares. “Sentimos medo, tristeza, eu e nossos três filhos ficamos muito apreensivos”, diz a esposa de Celino, Conceição Pina. Sem visitas presenciais por conta da pandemia, a tecnologia têm sido a alternativa para manter o contato entre pacientes e familiares. “Podíamos vê-lo e conversar com ele, mesmo intubado. Aguardávamos com expectativa cada chamada de vídeo, para vê-lo, orar, e transmitir palavras de amor, ânimo e fé. E o vimos reagir a esses estímulos, mesmo sedado”, conta Conceição. Para Celino, que viu a doença evoluir de forma rápida, saber como era realizado o acompanhamento com a família, o deixou mais tranquilo. “Eu nem ia me consultar, mas acabei indo pois estava tossindo, e já fiquei internado. Pouco tempo depois já fui intubado e transferido para o Huop. Foi muito rápido. Me senti sozinho, fragilizado, com medo, mas saber que a família estava ali, mesmo que em vídeo chamada, me deu muita força”, comenta. Celino participou de algumas das vídeo-chamadas sem estar sedado na última semana do internamento. “A nossa cabeça fica a mil, por isso é tão importante ter a família do lado para dar o apoio que precisamos”, enfatiza. 1 ANO DAS VISITAS VIRTUAIS NO HUOP As visitas virtuais foram idealizadas há um ano com o objetivo de aproximar familiares e pacientes. Assim como Celino, todos os pacientes internados na unidade Covid-19 do Huop recebem a vídeo-chamada uma vez ao dia. “Trazer o familiar de forma virtual minimiza a distância, além disso, os familiares conseguem entender o que é feito dentro da uma UTI e participar da recuperação”, ressalta o coordenador médico da unidade Covid-19, Thiago Giancursi.Quem faz as ligações é a equipe multidisciplinar do Huop. Hoje, com a ampliação do número de leitos, totalizando 70 leitos de UTI exclusivos para o atendimento de Covid-19, 5 profissionais por dia se dividem para participar das visitas virtuais. “As famílias esperaram ansiosamente pelas vídeo-chamadas. Já teve situações da família que morava no sítio ir até a cidade para poder ter um sinal de internet melhor para conversar com o paciente. É um momento em que a família se sente acolhida”, diz a assistente social, Daniela Prochnow Gund. “A equipe entende que esse contato com a família é importante para o paciente, então muitas vezes participamos também, seja cantando, rezando, lendo cartas, ouvindo áudios de oração e interagindo junto”, enfatiza a fonoaudióloga Silvana Duarte. Mesmo tendo o serviço à disposição, nem todas as famílias participam das vídeo-chamadas. “A equipe do Serviço Social faz a triagem de quem é a família, explica como funciona e pergunta se gostariam de ver o paciente. Tem casos em que os familiares preferem não vê-lo intubado, mas participam mandando áudios, orações. Cada família lida de uma forma diferente com a situação, mas a grande maioria quer participar da vídeo-chamada, pois se sentem acolhidos”, ressalta a assistente social, Daniela. E o tempo de cada visita virtual? “Não tem limite de tempo. Participar das vídeo-chamadas é uma doação de tempo em prol do outro, é se colocar no lugar do outro que está sofrendo por não poder ver o familiar e tentar com isso diminuir a angústia. Por isso é tão importante interagirmos também, participarmos das orações, da conversa com a família, fazer com que se sintam acolhidos e menos angustiados”, explica a fonoaudióloga, Silvana. “E os resultados disso são expressivos. Trazem um benefício psicológico imenso, além da gratidão pelo atendimento realizado na instituição”, afirma o coordenador médico, Thiago. NÃO É SÓ UM PACIENTE, É O AMOR DA VIDA DE ALGUÉM É importante ressaltar, que assim como Celino, que não é apenas um paciente, mas sim o amor da vida da Conceição, todos os pacientes também são amores da vida de alguém. Para a equipe da unidade Covid-19, as visitas virtuais são um complemento do cuidado clínico, o que torna o atendimento ainda mais humanizado. “O contato com a família faz com que saibamos mais sobre o paciente, de que ele não é o paciente do leito 1 ou 2, mas sim é uma pessoa que pode ter esposa/marido, filhos, pais”, enfatiza a assistente social, Daniela. “A equipe é formada por diversos profissionais da área de saúde, e quanto mais profissionais, mais conseguimos acessar as demandas dos pacientes”, complementa o coordenador médico, Thiago. O resultado desse olhar de diversas áreas trouxe até mesmo ideias novas, como o “prontuário afetivo”. “Consiste em chamar o paciente pelo nome que ele mais gosta, além de sabermos os desejos, vontades dos pacientes, tentando descaracterizá-lo de uma UTI, abrindo exceções para poder oferecer uma comida diferenciada que ele mais gosta, comemorando as datas importantes. Vemos no olhar do paciente e do familiar em como isso faz a diferença”, diz Thiago.Durante o internamento, as datas comemorativas, seja aniversário, Páscoa, Natal, entre outras, não passam em branco. “Nos organizamos para preparar algo diferente, principalmente pela família que não pode estar presente, e eles se sentem muito gratos por isso. É um momento em que toda a equipe participa”, diz a fonoaudióloga, Silvana. BOLETIM MÉDICO Durante a visita virtual não são repassadas informações do quadro clínico do paciente. “As vídeo-chamadas tem o intuito de aproximar os familiares, mas as discussões de condutas médicas, prognóstico, complicações, tratamento, são feitas em um outro momento, com apenas um familiar exclusivo que se concentra nas informações médicas e repassa a outros familiares”, explica o coordenador médico, Thiago. DESPEDIDAS A visita virtual é um momento de afeto entre os familiares, e em alguns casos, torna-se uma despedida. “Quando a família já é comunicada sobre a possibilidade de evoluir à óbito disponibilizamos a vídeo-chamada para despedida, momento em que muitos rezam, e pedem perdão. Mesmo não sendo um desfecho como gostaríamos, eles se sentem acolhidos e agradecem a equipe”, diz a assistente social, Daniela. “Na primeira despedida que participei, o filho me pediu para segurar a mão da paciente, dizendo que eu era o elo entre eles e a mãe, e a noite ela faleceu, e eles nos agradecem muito por isso. A despedida virtual é a coisa mais triste que eu já vivenciei. Ver a família se unindo para se despedir por telefone, sabendo que não poderá mais ver o paciente depois, nunca pensei em passar por isso”, conta a fonoaudióloga, Silvana. ALTA Já as altas hospitalares também têm a participação de toda a equipe, que se anima e deseja força na continuação da recuperação em casa. “Ficamos felizes a cada evolução do paciente, para nós também é extremamente gratificante ver os resultados positivos, a ida para casa”, diz a assistente social, Daniela. “E por isso participamos também desse momento, conversamos com a família, e eles nos agradecem muito, pelo cuidado, pela atenção que tivemos com eles. É um momento de felicidade para a família e para a equipe”, enfatiza Silvana. A alta do Celino não foi diferente, toda a equipe ‘festejou o momento’, e para quem teve até mesmo complicações dentro da UTI, a recuperação foi descrita como “milagre” durante a saída do Huop. Mesmo ainda em recuperação em casa, ele e a esposa, agradeceram todo o cuidado na unidade Covid-19. “Quero agradecer as equipes do Huop pela sensibilidade e amor com os familiares e pacientes. Recebemos o cuidado que todo ser humano merece, mas sabemos de pessoas próximas que sofreram por falta de informações. Obrigada por cuidarem tanto de nós”, conclui Conceição.
Fonte: Unioeste
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