
Na noite de terça-feira, 27, vídeos captados por uma câmera de segurança residencial em Corbélia passaram a circular em grupos de WhatsApp, acompanhados de textos e áudios encaminhados diversas vezes em que uma mulher e um homem descrevem o que seria uma suposta tentativa de sequestro de uma criança. As imagens mostram um homem se aproximando de uma casa, entrando no quintal e, ao fundo, duas crianças aparecem brincando. Ele entra, e sai alguns segundos depois.
Rapidamente, os vídeos ganharam grande repercussão nas redes sociais, com a narrativa de que o homem teria tentado levar uma das crianças, e já havia tentado levar outras crianças em ocasiões anteriores, em outras cidades da região. Em um dos áudios, um homem que não se identifica, afirma que a polícia estaria atrás do suspeito, mas que não conseguia localizá-lo. A história se espalhou rapidamente, e começou a gerar preocupação, medo e especulações entre moradores da cidade.
Diante da repercussão, a Conexão Revista foi em busca dos fatos e localizou a família envolvida nas imagens. O casal Daniela e Renan Ramirez, moradores da residência onde as câmeras registraram a movimentação, contou que foram surpreendidos por uma avalanche de mensagens e ligações desde a tarde de ontem. As pessoas queriam saber se o caso era realmente em frente à casa deles e como estavam os filhos, que aparecem nas imagens.
Daniela confirmou que as imagens são, de fato, da frente de sua casa. No entanto, afirmou com firmeza que nenhuma tentativa de sequestro aconteceu. As informações que passaram a circular junto ao vídeo — como os áudios que descrevem a suposta tentativa — são falsas e não foram gravadas por nenhum membro da família.
Daniela Ramirez afirma que o homem realmente entrou no quintal, mas que em nenhum momento tentou mexer com as crianças. “Na verdade é assim, ó, nada levou nós aqui de casa a achar que ele ia mexer com as crianças, não foi isso que aconteceu”, explicou.
Ela conta que, no momento, as crianças estavam na calçada, enquanto ela e o marido observavam pelas câmeras de segurança. “Na hora que eu abri a câmera, esse cara estava vindo, ele tinha saído da caminhoneta, como mostra na imagem. Ele veio beirando o lote do vizinho e entrou para dentro da nossa casa. Aqui é a nossa casa, não é o depósito, não é a nossa empresa, aqui é a nossa casa.”
Daniela relata que o marido saiu para atender o homem. “Meu marido saiu na porta para atender, porque às vezes a gente pensou que era algum cliente que queria gás, algo assim. E ele falou assim: ‘Onde que mora uma mulher que vende roupa?’ Meu marido falou: ‘Não sei. E não entra mais aqui em casa desse jeito.’”
O homem então teria saído caminhando para o lado oposto da caminhonete, depois voltou, passou pelas crianças, entrou no veículo e foi embora. Em seguida, o casal compartilhou o vídeo no grupo do projeto Vizinho Solidário, do qual fazem parte, e que é vinculado à Conseg — Conselho Comunitário de Segurança. “Foi dito, instruído pela Conseg, que qualquer coisa suspeita que acontecesse na rua, qualquer coisa diferente, era para a gente mandar no grupo dos vizinhos pra ver se alguém estava sabendo de alguma coisa”, disse Daniela. “Foi o que a gente fez. A gente pegou o vídeo das câmeras daqui de casa e mandou no grupo pedindo se alguém conhecia, se alguém sabia quem que era.”
O conteúdo, no entanto, foi recompartilhado por alguém do grupo, sem a autorização de Daniela. As imagens passaram a ser compartilhadas com áudios que afirmavam que o homem tentou sequestrar crianças, que ele estava encapuzado e que uma mulher saiu gritando após a filha quase ser levada para dentro do carro. Daniela desmente: “Aqui na frente de casa, em momento nenhum ele mexeu com as crianças. A gente não tem conhecimento e não saiu da nossa parte esses áudios que estão falando que o cara tentou colocar uma criança dentro da caminhoneta, que o cara estava encapuzado. Isso aí não foi aqui na frente da nossa casa.”
Ela explica que o boletim de ocorrência foi registrado apenas pelo fato do homem ter entrado na residência, e não por tentativa de crime contra crianças. “O boletim de ocorrência está registrado desde ontem, pela questão dele ter entrado aqui no lote, nada a ver com as crianças.”
Daniela reforça que não conhece quem gravou os áudios e que ambos não foram responsáveis por disseminar as informações falsas. “As pessoas começaram a juntar esse áudio dessa mulher falando que o cara tentou enfiar a criança dentro do carro com as imagens daqui da frente da nossa casa. E não foi isso que aconteceu. Esse áudio não partiu daqui, esse negócio do cara estar encapuzado não partiu de nós.”
Ela encerra com um alerta: “Justamente pelo fato de o cara às vezes só querer uma informação mesmo, a gente aceitou esclarecer pra você (Conexão Revista). A gente tá esclarecendo que isso não partiu de nós.”
A repercussão do vídeo foi tamanha que a Secretaria de Educação chegou a emitir uma nota durante a tarde para orientar os pais quanto aos cuidados com os filhos.
A Conexão Revista reforça a importância de verificar a veracidade das informações antes de compartilhá-las, principalmente quando envolvem crianças, segurança pública e a integridade de famílias. Casos como este mostram como boatos e fake news podem gerar pânico desnecessário e prejudicar pessoas inocentes.
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